quinta-feira, 30 de julho de 2015

    Me conta mais de você, não essas coisas que todo mundo sempre diz, sobre ser fã de John Green e assistir Game of thrones, me conta sobre sua tartaruga ninja preferida, sobre quem você queria ser quando assistia power Rangers, sobre o desenho animado que te arrancava risadas. Quero saber mais do que o que gosta de mostrar, não quero saber qual seu livro de cabeceira, quero conhecer aquele que você guarda na gaveta, esconde dos outros por achar que vão caçoar do seu gosto ou duvidar do seu bom gosto, o livro de cabeceira eu pretendo ver quando visitar seu quarto pela primeira vez. 
     Eu não quero ser a pessoa que chega, faz barulho e vai embora, quero ser a que fica e se for pra algum canto, te levar também, trazer paz pro seu coração e luz pros teus olhos tão cansados e escuros. Não quero ser visita na sua vida, quero abrir as janelas da sua alma, quero abrir a geladeira da sua casa, quero morar em ti, ser presença frequente na sua vida. 
     Já falei tanto de mim, me conta de você, vou te levar pra jantar, quero saber se gosta do meu prato preferido e se vou gostar do seu, quero saber da sua infância, se lembras dela com dor ou saudades, quero ouvir seu CD preferido e tentar imaginar o porquê de você gostar tanto.
Não sei bem se estou sendo clara, mas quando falo que te quero, to querendo pra sempre. Deixa eu te assistir viver, deixa eu chegar num ponto que só de te olhar saber tudinho que se passa ai dentro. 

terça-feira, 28 de julho de 2015

Todo dia de manhã reluto para que meu corpo obedeça ao despertador e se levante pra iniciar o dia, levanto e nem, um, bom dia, vou pra fila esperar que o onibus desta vez demore menos e deixa de tanto chacoalhar, no trabalho sou a primeira a chegar, as luzes ainda apagadas, as janelas todas fechadas da vontade de abrir e pular.

segunda-feira, 27 de julho de 2015

Você não é o amor da minha vida, você é uma farpa que entrou por debaixo dos meus dedos e chegou ao coração, não é mortal, nem violento, mas provoca um incomodo que constantemente me faz perder o sono e, por algum tempo, a vontade de seguir em frente. Talvez você me mate algum dia, ou saia tão facilmente quanto entrou, por enquanto vou seguindo com essa farpa que não se tira com pinça.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Era duas ou três da manhã quando Joana saiu do bar e foi caminhado sozinha pra casa. Cidade pequena não tem essa de pegar táxi na hora da volta, o caminho é curto, o perigo também e é normal andar sozinha. Havia anos que a moça havia se mudado da cidade, saiu fora do interior e foi estudar na capital, desde que se mudou visitou a família duas vezes, no natal do primeiro ano e na morte da avó. Desta vez viera se despedir do pai, o velho já estava doente a bastante tempo e a fatalidade veio acontecer logo na semana de aniversário de Joana, o pai que sempre foi ausente, deu de presente se ausentar pra sempre na semana dos seus 23 anos.
 A cerimonia de enterro foi rápida, o corpo do velho fedia a medicamentos e hospital, tinha ficado três meses em cima de uma cama na Unidade intensiva, durante esse tempo a família de joana clamou pra que ela viesse visita-lo, pedir perdão antes que fosse tarde demais, a filha rebelde, ovelha negra, bastarda, lésbica e inconsequente, que durante a vida inteira manchou e desonrou o nome da família e do pai.  
  Mas joana pensava: Pedir perdão por não ter cedido ao comando? Perdão por ter voado pra longe, enquanto queria me trancar numa gaiola? perdão por ter sido uma criança malvada o suficiente para não merecer um abraço do pai de presente de natal? e se tão louca e ruim eu fui, por que, enquanto definha, o velho haveria de me querer por perto? Afasta-me da tua hipocrisia! Me verás de pé, enquanto eu o olho de cima deitado na caixinha de madeira que o guardará no inferno. 
  E assim foi, joana só voltou quando o telefone tocou trazendo a notícia de que o pai tinha tido uma parada cardíaca durante a noite, os médicos optaram em não reanima-lo e o coração parou pra sempre. Durante o a cerimônia de velório e enterro, ao contrário dos irmãos, não posicionou sua cadeira ao lado do corpo e nem segurou a mão do velho com lagrimas nos olhos.
Fumou três maços de cigarro enquanto olhava pro velho inerte e sentia todos a olharem com desdenho. Sentia um enorme aperto no peito, suas mãos tremiam e dentro dela passava um filme dos momentos fraternos que ela sempre quis ter, foi usurpada da convivência com os irmãos durante a infância, depois que a mãe morreu pulou de galho em galho até que o pai decidiu que não havia mais meios de fugir da responsabilidade, tinha 16 anos quando se mudou pra viver com ele, a madrasta e os três irmãos mais velhos, a porcaria da cachorra da vizinha era tratada melhor do que ela dentro daquela casa.  Não tinham nem o cuidado de disfarçar que ela não era bem vinda. 
  O pai estava morto, mas uma parte dela também, foi afetada a vida toda pela insuficiência de carinho e atenção que sofrera na infância. Pensava: Talvez em duas ou três vidas, eu consiga sentir por você algo menor do que ódio. 
   Saiu do enterro direto pro bar da esquina, via-se as cruzes do cemitério do balcão do estabelecimento, tomou uma, duas, três doses de uma pinga barata, não precisou pagar nenhuma, foi cortejada e quase molestada por um cara que a seguiu até o banheiro e se surpreendeu quando ela tirou uma faca da bolsa e ameaçou corta fora aquele membro nojento . Saiu do bar, agora ta andando pela cidade vazia, sem ter lugar algum pra ir, a não ser a rodoviária onde pretende pegar o ônibus pra ir embora de novo. 

quarta-feira, 22 de julho de 2015

Entre uma e outra postagem de facebook, costumo me deparar com algumas que me tiram o fôlego e me põe a ansiar sonhos maiores, melhores e mais sagazes. Há textos que leio e me leem, me mostram  oportunidades e apontam caminhos. Sempre tive problemas com o conformismo e estabilidade, meus pés sempre estiveram menos no chão que minha cabeça nas nuvens. Estou para a quietude assim como o vento. Estou para a liberdade assim como Cazuza para a poesia, Bukowski para as mulheres, Drummond para as crônicas. 
    Viagens literárias me fazem muito bem, mas não estão mais conseguindo matar minha ânsia por aventuras reais. Preciso de drogas mais fortes que a rotina, compromisso, faculdade e trabalho, que me perdoem os normais, mas quero embarcar na insanidade de não ter caminho, direção, casa própria, hora certa, reuniões,  horários e  prazos. 
   Sempre abriguei uma ''pulga atrás da orelha'' sobre as verdades, obrigações e definições de certerrado. Eu não concordo com as verdades que as pessoas me trazem e não suporto que tentem moldar-me a elas. Destino, Deus, Tempo, Mundo, ou qualquer outro que esteja me ouvindo, deixe que eu rabisque o teu dicionário, que rasgue suas páginas cheias de explicações mecânicas e escreva de novo, de próprio punho, o que é a vida pra mim.
     
De ontem em diante serei o que sou no instante agora
Onde ontem, hoje e amanhã são a mesma coisa
Sem a idéia ilusória de que o dia, a noite e a madrugada 
são coisas distintas
Separadas pelo canto de um galo velho
Eu apóstolo contigo que não sabes do evangelho
Do versículo e da profecia
Quem surgiu primeiro? o antes, o outrora, a noite ou o dia?
Minha vida inteira é meu dia inteiro
Meus dilúvios imaginários ainda faço no chuveiro!
Minha mochila de lanches?
É minha marmita requentada em banho Maria!
Minha mamadeira de leite em pó
É cerveja gelada na padaria
Meu banho no tanque?
É lavar carro com mangueira
E se antes um pedaço de maçã
Hoje quero a fruta inteira
E da fruta tiro a polpa... da puta tiro a roupa
Da luta não me retiro
Me atiro do alto e que me atirem no peito
Da luta não me retiro...
Todo dia de manhã é nostalgia das besteiras que fizemos ontem

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Quero dizer que, dessa vez, prefiro me calar, fechar os olhos, deixar que você vá, ou não. Admito que, aqui dentro de mim, torço para que fique, rezo pra que fique, mas preciso que a escolha seja sua, que fique por vontade, descuido ou poesia não me cabem, não desta vez. A escolha tem que ser sua, abdico da influência que sei que exerço, se for preciso me ausento agora, para que decida em paz se quer ou não se ausentar pra sempre. 
Entendi que a melhor coisa a se fazer agora, é não fazer nada. Vou guardar minhas energias, para me recuperar caso sua decisão seja partir (e me partir) ou para te abraçar caso ache que já se encontrou aqui e não precisa mais pular de galho em galho, case queira fixar raiz em mim. 
Deixei de ser nômade à algum tempo, minhas viagens passaram a ser de livro em livro, mas lembro que costumava pensar que voar baixo era bobagem e deixar de voar era morrer, se é assim que se sente, prefiro que vá, não quero comigo um moribundo refém de uma rotina indesejada. Tem gente que precisa tomar de todos os copos, de todas as bebidas, para escolher a que mais lhe convém. 
   Espero que o gosto do veneno não seja tão bom quanto o do pecado, espero que se sacie antes de chegar tão longe e espero que perceba logo que a apesar do que dizem sobre "se perder também é caminho", o caminho não é lar e a estrada não vai te afagar. O bom da vida é voar de encontro a alguém, voar para se (auto) encontrar é besteira, estamos dentro de nós.