Digo
incontáveis vezes para mim mesma "Não se apaixone, somos dessa gente que
anda só" e por muito tempo acreditei piamente nessa verdade que inventei e
datei como lei e lema de vida, acontece que sempre tive aptidão com a solidão,
ela jamais me fez falta, me acompanhou durante a vida e depois de muitas brigas
e reviravoltas tornamo-nos companheiras, companhia uma da outra. Enquanto os
sentimentos nos ignorava, líamos juntas, ouvíamos rock, MPB e samba raiz, cultuávamos
velhos escritores e dançávamos.
De uns tempos
pra cá o sentimento pareceu ter notado nossa presença, nos viu ali no canto
escuro do mundo, veio se aproximando, se aproximando, sentou-se do meu lado, a
solidão ficou enciumada, deu pra ser cruel, amarga, ácida, sua presença
tornou-se incomoda, me aliei ao sentimento e a expulsei, o sentimento até então
se comportava como bom moço, mas depois de um tempo começou a comer o meu tempo
de leitura, o meu tempo de ouvir boa música, eu não podia fazer mais nada, o danado
do sentimento tava ali pra ditar meus passos e meus pensamentos.
Comeu tanta
coisa minha, que ficou enorme, maior que eu, passou a me assustar caminhar ao
lado de algo tão forte, me reprimia o fato de ele ter tanto poder sobre mim.
Comecei a
perceber a semelhança que o sentimento tem com o sofrimento, se não fosse pelos
radicais das palavras, poderiam ser uma só. Quando conheci a solidão ela se
sentou comigo na mesa escura perto da saída, o sentimento me tirou de lá e me
colocou de frente ao palco, eu assiste seu show, eu te vi sambar e depois
dançar sobre o que eu sentia, depois quando o sentimento se parecia cada vez
mais com o sofrimento ele me expulsou do salão de festas. O cruel agora, é que
está concreta a minha inimizade com a solidão, não nos suportamos mais, onde eu
to ela aparece e repete “eu te avisei”. A solidão é igual mulher traída, adora
me desagradar, mas no fundo me ama.
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